domingo, 25 de novembro de 2012

AULAS DE DANÇA DE SALÃO EXERCITAM A COGNIÇÃO, A MEMÓRIA E AS HABILIDADES SOCIAIS


Aprender é algo que o cérebro faz a vida toda, conforme nossas experiências vão deixando suas marcas em nossos neurônios e suas conexões. O que funciona, e é usado, fica; o que não serve vai sendo descartado, cedendo lugar para outras informações. Se você estiver precisando se convencer de que continua capaz de aprender, e ainda quiser se divertir, suar a camisa e fazer amigos tenho uma sugestão: experimente fazer aulas de... dança de salão.
Lições de dança são um ótimo exemplo de como o aprendizado, de modo geral, acontece, e dos fatores que o influenciam. Para começar: nada de aprender uma coreografia complexa de uma vez só. Os professores sabem há tempos que o cérebro assimila novos programas motores aos poucos, então ensinam os passos em etapas. O córtex motor elabora a nova sequência de movimentos, até então nunca usada, ordena sua execução e começa a ajustá-la, de acordo com erros e acertos, com a ajuda dos núcleos da base. Cada movimento fica mais fluido conforme o cerebelo, através de tentativa e erro, vai ajustando os movimentos adequados, antes mesmo que eles sejam executados.
Mas, para a dança de salão, não basta aprender os passos; é preciso aprender os sinais associados a cada um, os pequenos gestos com que o cavalheiro conduz sua dama, indicando-lhe, sem falar, qual será o passo seguinte. Tudo isso requer repetição, mas prestar atenção é fundamental. Por definição, já que nossa atenção é limitada a uma coisa de cada vez, tem sempre mais eventos ocorrendo do que nosso cérebro consegue dar conta – e a atenção é o filtro que serve como porta de entrada para a memória. Sem prestar atenção no professor ou no parceiro, nada feito. O que é ótimo: como é preciso concentrar esforços sobre as próprias pernas, os problemas do mundo ficam... lá fora.
Depois de aprender os sinais e polir cada sequência de movimentos, é hora de coordená-las em um programa motor completo, que cuida da execução fluida de combinações de sombreros, coca-colas, ochos e outros passos – no ritmo da música, de preferência, se seu cerebelo ajudar. E haja cerebelo para manter o prumo com tantos rodopios. Motivação também é fundamental. Afinal, para ter a prática que leva à perfeição, ou pelo menos ao bom desempenho, é preciso ter vontade: é preciso querer estar ali. Experimentar um pouco de tudo nos dá oportunidade para descobrir do que gostamos, mas poder escolher investir no que se realmente gosta é fundamental.
Com a prática, chega-se ao ponto tão desejado onde a execução dos programas motores aprendidos se torna automática, liberando o córtex cerebral para outros assuntos, como conversar com o parceiro ou até cantarolar a música. É aqui que dançar deixa de ser esforço e vira prazer puro: sequências de movimentos executados sem precisar de supervisão cortical, simplesmente em resposta aos movimentos do outro. Seu cérebro aprendeu a dançar!
Dança de salão é tudo de bom. Academias são lugares alegres, cheios de jovens e idosos, todos dispostos a aprender coisas novas – e ainda oferecem um exercício completo para corpo e cérebro. Dançando, é possível suar, dar um fim a toda tensão muscular acumulada durante o dia, e manter saudável a resposta do cérebro ao estresse. Dançar ainda treina a memória, com o aprendizado de passos e nomes novos; exercita suas habilidades sociais, necessárias para interagir de modo cortês com pessoas desconhecidas e fazer novos amigos, e ativa o sistema de recompensa, o que garante boas horas de prazer e diversão.

sábado, 10 de novembro de 2012

"OLHO GORDO", SEGUNDO ESTUDO, PODE SER AUTOSSABOTAGEM


Mesmo quem não acredita no poder do "olho gordo", sabe do que se trata: é o nome que se dá às supostas energias negativas transmitidas por alguém à outra pessoa, por raiva, inveja, despeito e outros sentimentos do tipo. A vítima poderia sofrer seus efeitos em diferentes níveis: de riscar acidentalmente o carro novo a ficar doente. Outros sinais seriam sentir desânimo, cansaço, baixo astral e uma sensação de que, por mais que se batalhe, nada dá certo. Para afastar os efeitos do "olho gordo", muita gente busca proteção com rezas, amuletos, simpatias.
 Mas, afinal, "olho gordo" existe? E, se existe, pega? Para Etienne Higuet, professor do programa de pós-graduação em Ciências da Religião da Umesp (Universidade Metodista de São Paulo), primeiro é preciso entender o conceito de superstição: crenças e práticas que não são consideradas válidas pelas instituições religiosas oficiais --que no Brasil são, sobretudo, cristãs-- e tidas ainda como vãs e irracionais pela ciência.
"Acreditar que o olhar de certas pessoas têm um poder mágico vem de um fundo religioso muito antigo e arraigado nas culturas ameríndias, afro-americanas e europeias, especialmente latinas e camponesas, que o cristianismo institucional nunca conseguiu abafar completamente", afirma. Etienne explica que essa ideia subsiste no inconsciente coletivo e, no Brasil, ganha força com a herança das culturas indígenas e africanas, a intensa adesão local ao espiritismo e o sincretismo entre todas as tendências religiosas.
Para o especialista da Umesp, o "olho gordo" corresponde à imensa vontade humana de poder controlar o destino. Só que esse desejo encontra múltiplos obstáculos, de modo que qualquer fracasso pode ser facilmente atribuído a pessoas mal intencionadas ou detentoras de forças que elas mesmas não conseguem controlar. "Pode ser um meio de não assumir a responsabilidade por certos fracassos ou acontecimentos, atribuindo o ocorrido a outras pessoas ou a forças irracionais incontroláveis", diz.
Na opinião do psicanalista Leonard F. Verea, especialista em Medicina Psicossomática e Hipnose Clínica, as chamadas energias negativas acabam atingindo quem crê na sua força e no seu poder. "Essas pessoas, em geral, não têm boa autoestima nem valorizam o suficiente as próprias qualidades. A insegurança às torna suscetíveis às opiniões alheias", conta. Para ele, uma forma de se preservar do "olho gordo" seria se transformar no próprio amuleto, fortalecendo o pensamento positivo e a autoimagem.
A intenção de quem supostamente emite energias negativas pode ser consciente ou não. Marta Leopoldo dá o exemplo de quando batemos o dedo numa porta e a chutamos, com raiva. "Essa atitude nada mais é do que dar o troco. É como se quiséssemos que a porta sentisse a nossa dor", diz. A pessoa que emana o "olho gordo" está sofrendo e incomodada, mas nem sempre se dá conta das razões. Ao "secar" alguém e presenciar o outro se dando mal, de algum jeito, ela se sente acolhida e aliviada, pois repartiu sua amargura.
Para a psicóloga Marta Rita Leopoldo, especialista em terapia junguiana e pós-graduada em neuropsicologia, nossa mente é extremamente complexa e pode, inclusive, nos boicotar. "Às vezes, por questões inconscientes, achamos que não merecemos determinadas coisas, que vão de bens materiais a relacionamentos amorosos. Abrimos espaço na vida para que as coisas deem errado", declara.
Ela comenta a já citada situação de ralar sem querer o automóvel novinho no portão da garagem. Para ela, no fundo, a pessoa não se sente merecedora de tê-lo. Ao estragá-lo, se sente mais confortável. Ainda segundo Marta Leopoldo, o medo é um fator que atrai as "más vibrações". Vale o mesmo exemplo do carro: o motorista tem tanto receio de lesar o bem que acaba justamente fazendo o que mais teme. "E aí, ao considerar esse acontecimento um sinal de ‘olho gordo’, se sente mais aliviado. 'Pelo menos já aconteceu', é o que pensa no íntimo", fala a psicóloga. O que isso significa? Que talvez o “olho gordo” possa ser produzido por nós mesmos.
Dificilmente a ciência consegue explicar todos os fenômenos –em especial aqueles que supostamente acontecem na mente humana– e deixa uma importante margem para as crenças. Uma premissa da física quântica, no entanto, defende que não só o “olho gordo” existe como pode ser visto em laboratório.
"Para a física quântica, a matéria não é o mais importante. O que importa são os movimentos das energias, questões que vão além daquilo que ocorre no cérebro", afirma a cientista a psicoterapeuta Claudia Riecken, ativista quântica e seguidora do indiano Amit Goswami (uma das estrelas do documentário "Quem Somos Nós?", de 2004), referência mundial em estudos que buscam conciliar ciência e consciência.
Segundo Claudia Riecken, toda intenção gera uma frequência de ondas que altera o campo magnético das pessoas –daquelas que emanam e de quem recebe. "E isso é percebido em exames feitos por neurocientistas, através de mudanças nos fótons [partículas de luz] detectadas no cérebro", conta ela, declarando que não existem fronteiras que atrapalhem os resultados. Assim, o “olho gordo” poderia atingir até quem está no Japão.
Para a cientista, é possível barrar os pensamentos negativos ao trabalhar o próprio campo magnético de energia –através da compaixão, da autoestima, do perdão. "A inveja do outro fisga a sua. O ‘olho gordo’ só pega em quem também o traz dentro de si e quer competir, brigar, disputar", declara. De acordo com Claudia, atacar de volta nunca é o melhor estilo de se defender.
Uma conclusão é comum entre os especialistas: se existe "olho gordo" ou não, o melhor é não prestar atenção ao redor, mas em si mesmo. Para Etienne Higuet, docente de Ciências da Religião, as pessoas têm razão em acreditar na presença maciça do mal no mundo, especialmente no mal que as pessoas desejam para as outras. "A influência de mentes perversas nunca deve ser superestimada", diz.


sexta-feira, 2 de novembro de 2012

ESTEREÓTIPOS AJUDAM HOMENS A SUPORTAR MAIS A DOR, DIZ ESTUDO


Homens podem tolerar mais a dor que as mulheres devido aos estereótipos associados ao gênero masculino, segundo conclusões de um estudo divulgado nesta quarta-feira (31) pela Universidade Metropolitana de Leeds, no norte da Inglaterra.
 O gênero e a cultura desempenham uma parte importante na forma como se lida com os incômodos e a dor, afirmou o cientista Osama Tashani, que liderou o relatório que conclui que os estereótipos de gênero levam aos homens a ser mais impassíveis enquanto as mulheres mostram mais sensibilidade.
Para fazer a pesquisa, publicada no European Journal of Pain, Tashani recrutou 200 voluntários britânicos e líbios. Após uma pesquisa que durou dois anos, concluiu-se que os homens têm o limiar de dor mais elevado e se queixam menos de sua intensidade que as mulheres embora, segundo Tashani, "alguns grupos étnicos são mais impassíveis e outros parecem mais livres na hora de expressar a dor". "Há uma quantidade cada vez maior de evidências de que a etnia influi na resposta à dor sentida", concluiu o cientista.
Foram feitos dois tipos de experiências com todos os voluntários: uma prova de pressão, na qual se espetava a mão com um objeto pontiagudo, e outra em que se interrompia o fluxo sanguíneo no braço não dominante (esquerdo, para os destros, direito, para os canhotos).
Em ambas as provas os resultados refletiram que os homens têm o limiar de dor mais alto e resistem mais do que as mulheres, enquanto o limiar dos líbios - tanto mulheres quanto homens - era mais alto que o dos britânicos. Tashani disse que os cientistas não notaram diferenças quanto ao nível de dor, mas as provas mostraram que o julgamento dos líbios sobre os papéis masculino e feminino era mais conservador que o dos britânicos.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

PREGUIÇOSOS TÊM EXCESSO DE DOPAMINA NO CÉREBRO


Concentração do neurotransmissor na ínsula anterior pode estar relacionada com a falta de vontade. As substâncias produzidas pelo cérebro têm grande influência sobre nosso comportamento. A ciência já sabe, por exemplo, que o excesso do neurotransmissor dopamina desencadeia euforia e motivação. Drogas como a cocaína e o crack, por exemplo, estimulam a liberação desse componente químico. Agora, neurocientistas da Universidade Vanderbilt, no Tennessee, descobriram que o cérebro de pessoas desmotivadas também pode ter grandes quantidades desse neurotransmissor – só que no lugar “errado”, isto é, na ínsula anterior.
A equipe conduzida pelo neurocientista David Zald solicitou que voluntários divididos em dois grupos tentassem resolver uma tarefa monótona que aumentava em grau de dificuldade – e que seria recompensada em dinheiro caso se saíssem bem – enquanto seu cérebro era escaneado por meio de tomogra
fia por emissão de pósitrons (PET). Como os pesquisadores esperavam, houve resposta maior de dopamina em determinadas partes do sistema de recompensa das pessoas aparentemente mais empenhadas no exercício. Mas, surpreendentemente, o aumento da atividade do neurotransmissor também foi verificado no caso dos voluntários menos engajados, mas em outra parte do cérebro: a ínsula anterior, região envolvida no processamento de estados físicos e emocionais e no comportamento de dependência.
Os pesquisadores consideram que a concentração de dopamina nessa área pode estar relacionada com a falta de vontade. Entretanto, Zald esclarece que o teste é um procedimento muito simples para avaliar a motivação dos participantes – até porque a recompensa em dinheiro pode não instigar a todos. “O que não quer dizer que o empenho dos participantes não forneça pistas de como se comportam em outras situações que exigem motivação”, diz o neurocientista.



quarta-feira, 24 de outubro de 2012

MANIAS DO TRANSTORNO BIPOLAR DO HUMOR


O transtorno bipolar não é novo. Ele vem sendo identificado há muito tempo, em diversas épocas às vezes com distintas denominações. Tanto na fase de mania quanto na de depressão, o seu diagnóstico pode ser confundido com o de outras doenças.
O trantorno bipolar do humor é uma doença crônica e recorrente, associada a altos custos econômicos e sociais, incluin
do perda de produtividade, piora de qualidade de vida e suicídio. Anteriormente, o transtorno bipolar era considerado como doença de bom prognóstico, com boa recuperação entre os episódios. No entanto, cada vez mais tem sido observado que esses indivíduos sofrem de disfunções social, marital, ocupacional e cognitiva, mesmo quando se encontram, supostamente, recuperados.
Esta patologia usualmente se inicia entre os 20 e 30 anos de idade, mas cada vez mais se reconhecem casos em adolescentes e crianças, situação na qual o diagnóstico pode não ser fácil para o psiquiatra especialista na infância e adolescência. A doença pode começar por um episódio de depressão ou de mania. Na mulher, o sintoma inicial mais comum é um episódio de depressão; já os homens iniciam a doença, em geral, com episódio de mania.

DENOMINAÇÕES E TIPOS
O transtorno bipolar não é novo. Ele vem sendo identificado há muito tempo, em diversas épocas, às vezes com distintas denominações, como: Areteus da Capadócia (150 AC): Melancolia, Mania; Falret & Baillarger (1854): Loucura Circular; Griesinger (1867): Transtorno Mental Unitário; Kahlbaum (1882): Ciclotimia; Kraepelin (1899): Psicose Maníaco- Depressiva. Pode ser dividido em tipo I e tipo II, conforme os sistemas de classificação mais aceitos como os da Classificação Internacional de Doenças, atualmente na sua décima edição (CID-10), elaborada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e classificação diagnóstica e estatística dos transtornos mentais e do comportamento da Associação Americana de Psiquiatria, atualmente na sua quarta edição revisada (DSM-IV-TR).
No tipo I, mais grave, são observados episódios de mania alternados com episódios depressivos e também períodos de relativa normalidade, denominados de eutimia. As fases maníacas ou os estados mistos (estados em que ocorrem sintomas de mania e depressão concomitantemente) não precisam necessariamente ser seguidas por fases depressivas, nem tampouco as depressivas por maníacas. Muitas vezes um indivíduo que teve o episódio anterior de mania pode vir a apresentar um novo episódio maníaco, e o mesmo é válido para depressão.
Em geral, os indivíduos com a sequência depressão- mania tendem a ser mais difíceis de tratar e podem particularmente responder mal ao Lítio, padrão-ouro no tratamento da enfermidade bipo- lar. Há casos de pacientes que terão em suas vidas mais episódios maníacos do que depressivos; alguns outros irão relatar um ou dois episódios de mania e inúmeras fases depressivas.
O transtorno bipolar é uma condição recorrente. Aproximadamente 90% dos indivíduos que apresentam um episódio maníaco terão uma recorrência nos próximos anos. O diagnóstico costuma demorar de 8 a 10 anos para ser feito. No transtorno bipolar tipo I, podem ocorrer sintomas como delírios e alucinações, tanto na fase de mania quanto na de depressão, podendo o diagnóstico ser confundido com o de outras doenças, como esquizofrenia. Se um indivíduo apresenta quatro ou mais episódios da doença em um ano ele é considerado um ciclador rápido.

DIAGNÓSTICO DIFÍCIL
No transtorno bipolar tipo II, ocorrem episódios depressivos e hipomaníacos, em geral de duração mais curta e menos frequentes do que as fases depressivas. Muitas vezes, o diagnóstico é difícil, podendo demorar cerca de 13 anos. A hipomania assemelha-se à mania, contudo é um quadro com menor intensidade sintomatológica. Muitos indivíduos com transtorno bipolar tipo II passam anos com um tratamento inadequado, utilizando antidepressivos (o que piora o curso da doença), ao invés de estabilizadores do humor.
Na hipomania, ocorrem hiper-reatividade, tagarelice, diminuição da necessidade de sono, aumento da sociabilidade, atividade física, iniciativa, atividades prazerosas, libido/sexo, e impaciência. Por definição, a hipomania não se apresenta com sintomas psicóticos, não requer hospitalização e o prejuízo ao paciente não é tão grande quanto na mania.
A demora no diagnóstico do transtorno bipolar pode se dever a dificuldades de identificação dos episódios hipomaníacos (esse episódios podem ser tão breves com duração de 4 dias, por exemplo). O paciente, assim como seus familiares e amigos, podem considerar esses períodos de “maior extroversão” como normais e até desejáveis. Contudo, o não tratamento desses indivíduos pode, com o tempo, levar a prejuízos emocionais, morais e materiais para eles próprios e seus familiares.
A mania, por ser uma condição mais grave do que a hipomania, requer tratamento vigoroso, que deve ser realizado em local seguro, no qual o paciente não tenha estímulos excessivos. O objetivo principal, aqui, é o da resolução dos sintomas da forma mais rápida e segura possível. Os antipsicóticos podem acelerar a respostcelera respo a terapêutica na mania, quando associados a um estabilizador de humor. O uso de antipsicóticos atípicos (ou antipsicóticos de nova geração) tem sido, em geral, preferido.
Importância especial deve se dar ao reconhecimento dos estados mistos. Episódios mistos são encontrados em 30% a 40% dos indivíduos com transtorno bipolar. Os indivíduos em estado misto apresentam-se com maiores níveis de ansiedade, taxas aumentadas de psicose e suicídio e pior prognóstico.

O que é preciso saber
Um livro para qualquer pessoa que precisa se aprofundar sobre o assunto transtorno bipolar, escrito em uma linguagem mais acessível, não rebuscada por termos acadêmicos, dividido e organizado de modo a facilitar a vida do leitor para encontrar o que deseja. A obra Transtorno Bipolar – O que é preciso saber (editora M. Books) traz relatos como exemplos, ensina a reconhecer os primeiros sinais de mania ou depressão (as variáveis dentro da bipolaridade), orienta sobre contatar o médico para encontrar a medicação e a terapia adequada, entre outras necessidades vitais. Em suas mais de duzentas e cinquenta páginas, o livro mostra como distinguir os primeiros sinais de oscilação do humor bipolar, dos altos e baixos, as medicações disponíveis e quais são seus efeitos colaterais, o que fazer quando se sentir em estado de depressão – ou mania -, entre outras informações para quem viva com a patologia ou conhece alguém que apresente esse quadro.
Quando é recomendado hospitalizar o paciente
O tratamento do transtorno bipolar, de modo geral, depende da fase do episódio (ex: depressão, mania, estados mistos) e da sua gravidade. Sempre envolve o uso de medicamentos. Decidir em que local será o tratamento e sobre a necessidade de hospitalização são os passos iniciais.
O paciente em mania aguda deve ser hospitalizado se representar:
Perigo para si próprio: o indivíduo com episódio de mania aguda pode entrar em estado de exaustão, em função do descuido com sono e alimentação.
Perigo para outras pessoas: principalmente os indivíduos com sintomas psicóticos podem representar perigo para a integridade física de outros.
Total descontrole sobre seus atos: seu comportamento pode ser danoso para sua vida pessoal e profissional.
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por: Eduardo Pondé de Sena é psiquiatra e professor adjuntodoutor de Farmacologia e Terapêutica do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde também atua como docente da pós-graduação.


segunda-feira, 22 de outubro de 2012

BORDELINE: UM TRANSTORNO DE PERSONALIDADE NO LIMITE DAS EMOÇÕES

Todos nós apresentamos momentos de explosões de raiva, tristeza, impulsividade, teimosia, instabilidade de humor, ciúmes intensos, apego afetivo, desespero, descontrole emocional, medo de rejeição, insatisfação pessoal. E, quase sempre, isso gera transtornos e prejuízos para nós mesmos e/ou para as pessoas ao nosso redor. Porém, quando esses comportamentos se apresentam de forma frequente, intensa e persistente, eles acabam por produzir um padrão existencial marcado por dificuldades de adaptação do indivíduo ao seu ambiente social. Quando isso ocorre, podemos estar diante do transtorno da personalidade borderline. Os borders apresentam hiperatividade emocional, ou seja, é muito sentimento e muita emoção sempre. E costumam lidar muito mal com qualquer tipo de adversidade, especialmente as que envolvem rejeição, desaprovação e/ou abandono. Quando se deparam com uma situação dessas, desencadeiam uma reação de estresse muito mais intensa e abrangente do que o esperado. E chama-se borderline por isso, porque vivem no limite das emoções.

É o transtorno do amor?

É o transtorno dos afetos. Porque o amor deve ser funcional, positivo. O que o border tem é um afeto disfuncional.

Existe uma personalidade borderline e um transtorno de personalidade borderline? Como é isso? Qual a linha divisória?

A personalidade é o jeitão de cada um. É a parte biológica somada ao que aprendemos, à cultura. A junção dessas duas partes vai gerar uma série de comportamentos recorrentes, que caracterizam a personalidade de cada um. A personalidade borderline é marcada pela dificuldade nas relações interpessoais, pela baixa autoestima, instabilidade reativa do humor e impulsividade. Quando essas características se apresentam de forma muito disfuncional, nós a chamamos de transtorno.
Tipos diferentes de personalidades, mesmo com traços aparentemente negativos, podem ser requisitos para determinadas atividades, não? Quer dizer, não é qualquer tipo de pessoa que pode ser, por exemplo, um médico voluntário, trabalhando em meio à fome na África ou ajudando sobreviventes do terremoto no Haiti.
Só é transtorno quando apresenta problemas sérios para a pessoa, quando é tão disfuncional que a pessoa deixa de ser produtiva. Tirando isso, a personalidade border, ou, como dizemos, o traço border, pode ser muito interessante, se a pessoa não tem ataques de fúria, dependência. Grandes causas sociais, como você mencionou, demandam pessoas com grande capacidade de sentir empatia, com grande sensibilidade e que precisam de um alto grau de aceitação. Uma outra característica comum nessas pessoas é a fluidez na autopercepção. Por isso, pessoas com traço border dão grandes atores. Quando tratamos alguém com o transtorno, temos que ter em mente que, antes de mais nada, essa é uma maneira de ser, uma base estabelecida que não muda. O que buscamos no tratamento é transformar o transtorno em traço: ou seja, a pessoa vai continuar a ser sensível, emotiva, mas ela não vai capotar naquilo, vai canalizar para coisas produtivas.

O quanto do transtorno é biológico e o quanto é fruto do meio? No livro, a maior parte das pessoas com o transtorno teve vidas muito duras, marcadas por abuso sexual, agressão física, abandono. Como se pode dizer que isso é biológico?

Sabemos é que 50% são biológicos e 50% estão relacionados à criação, ao meio, à cultura. Quando a pessoa tem a biologia, mas vive num meio normal, o transtorno vai se apresentar de uma forma muito mais branda ou como traço. A estrutura genética não muda, mas é possível moldar a forma como se apresenta.

Como é a vida de quem tem o transtorno?

A pessoa tem uma dificuldade muito grande nos relacionamentos. Ela tem a autoestima destruída. Se vê muito pior do que é, de maneira depreciativa, e acha que a solução está no outro; é na dependência afetiva do outro que ela busca segurança e legitimidade. E é muito impulsiva. Mas essa impulsividade se manifesta de uma forma muito específica: ela está relacionada a explosões de raiva e ira. O border, como dizemos, é aquela pessoa que, literalmente, fica cega de raiva. Todo mundo que já viveu uma paixão alucinada sabe como é ser border: esse é o jeito border de ser. O estado da paixão, de acordo com a ciência, dura de dois meses a dois anos justamente porque, se durar mais, ninguém aguenta. Mas o border vive assim.

Trata-se de um transtorno que acomete muito mais mulheres do que homens. A neurociência explica por quê?

Sabemos que 75% dos pacientes são mulheres. Não sabemos exatamente por quê, mas não chega a ser uma grande surpresa se pensarmos que o transtorno está relacionado a uma hiperatividade do sistema límbico, que é o nosso verdadeiro coração, a região do cérebro que regula as emoções. No border, o sistema funciona demais, no extremo das emoções. Nos momentos de maior impulsividade, é como se houvesse uma pane total no sistema, um curto-circuito. Como a questão das emoções já é naturalmente mais marcada para as mulheres, é de se esperar que elas sejam a maior parte dos pacientes. Por outro lado, os homens, com cérebros mais racionais, são a maioria dos que sofrem de transtorno de psicopatia — em que o sistema límbico não funciona ou funciona muito pouco, o que os torna incapazes de ter empatia, de se sensibilizar com o sofrimento dos outros.

A adolescência é uma época em que as emoções já são muito mais intensas. Como é o transtorno nessa fase da vida?

O transtorno surge pela primeira vez nessa fase que é, em geral, quando ocorre o primeiro rompimento ou afeto não correspondido. Essa rejeição desencadeia o curto-circuito. A adolescência é a época das paixões, da impulsividade, da sexualidade, do comportamento de risco. Tudo isso faz parte, o adolescente tem que arriscar para aprender. É uma erupção emocional. No border, no entanto, é uma hemorragia. A automutilação é um comportamento recorrente. E se você perguntar por que ele fez aquilo, vai dizer que é para aliviar a angústia, o vazio.

E alivia mesmo? Por quê?

Sim. Ele se sente muito melhor porque deixa de sentir angústia. Quando há uma ameaça física ao corpo, o sistema de defesa e estresse é acionado. A substância liberada para tamponar a agressão é a endorfina, que é um anestésico. Por isso, um tratamento ótimo é a atividade física intensa, que libera endorfina.

A Carminha, de Avenida Brasil, é border?

Totalmente. Basta ver aquelas explosões de fúria, de ódio, sua instabilidade emocional. E, ao mesmo tempo, o grande pavor que tem da rejeição. Aquela família é seu alicerce, ela jamais se separaria, embora diga o contrário.

Existe tratamento?

É possível diminuir a hiperatividade do sistema límbico com medicações específicas em doses específicas — muitas vezes mínimas. Com isso, você reduz muito os ataques de fúria, os atos destrutivos, as agressões; baixa a bola do sistema mesmo. Mas, paralelamente, é preciso terapia, uma terapia muito específica, mais direcionada para o presente do que para o passado, que vai treinar a pessoa a viver com menos intensidade, a sangrar menos. A não morrer de hemorragia.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

PESQUISA RELACIONA DOENÇAS MENTAIS A CRIATIVIDADE

Estudo com mais de 1,2 milhão de pessoas mostrou, por exemplo, que escritores são mais propensos a apresentar esquizofrenia. Pela primeira vez, um extenso estudo científico afirmou existir um forte vínculo entre a loucura e a expressão artística: segundo a pesquisa, pessoas muito criativas são mais propensas a manifestar doenças como a esquizofrenia ou o transtorno bipolar. As conclusões foram publicadas nesta semana no periódico Journal of Psychiatric Research.
Ao todo, os pesquisadores analisaram os dados de 1,2 milhão de suecos e de seus familiares (até os primos de segundo grau). Eles então, desenvolveram a pesquisa para saber se existe uma relação entre diagnósticos psiquiátricos — como esquizofrenia, depressão, transtorno de ansiedade, alcoolismo, dependência química, autismo, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), anorexia e suicídio — e uma maior criatividade.


Relações — A pesquisa encontrou uma relação especialmente forte entre a profissão de escritor e a esquizofrenia, mas também mostrou que existe uma associação entre essa ocupação e a maioria dos diagnósticos psiquiátricos. Escritores ainda se mostraram 50% mais propensos a cometer suicídio do que a população em geral.

Além disso, o transtorno bipolar foi mais prevalente em pessoas cujas profissões estão ligadas à arte ou à ciência, como pesquisador, dançarino e pintor, do que no restante dos indivíduos. Ter algum familiar com esquizofrenia, transtorno bipolar, anorexia ou autismo também elevou a probabilidade de uma pessoa optar por uma profissão associada à criatividade e à expressão artística.

Para Simon Kyaga, coordenador do estudo, esses dados sugerem que muitos aspectos dos transtornos mentais devem ser reconsiderados. "Na psiquiatria e em toda a medicina em geral, há uma tradição de enxergar uma doença como se fosse algo 'preto no branco', acreditando que é preciso tirar do paciente tudo aquilo que está relacionado à condição", diz. "Se nós levarmos em conta que certos fatores associados à doença de um paciente são benéficos, podemos fazer com que novas abordagens de tratamento sejam abertas. Nesse caso, médico e paciente chegariam a um acordo sobre o que deve ser tratado e qual será a consequência disso." 

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CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Mental illness, suicide and creativity: 40-Year prospective total population study
Onde foi divulgada: periódico Journal of Psychiatric Research
Quem fez: Simon Kyaga, Mikael Landén, Marcus Boman, Christina Hultman, Niklas Långström e Paul Lichtenstein
Instituição: Instituto Karolisnka, Suécia
Dados de amostragem: 1,2 milhão de pessoas e seus familiares (até os primos de segundo grau)
Resultado: Há uma relação entre transtornos psiquiátricos e profissões ligadas à criatividade. Escritores, por exemplo, são mais propensos a apresentarem esquizofrenia e outros transtornos mentais, além de se suicidarem